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OPINIÃO: Competência ou sorte?

Tive a oportunidade de conhecer um dos lugares mais isolados do mundo: o Alasca. Todos me perguntaram: com tantos lugares no mundo para ir, por que o Alasca? Isso é muito pessoal, mas após conhecê-lo posso dizer que é o lugar onde temos a certeza da existência de Deus. É onde a natureza se sobrepõe ao homem. O Alasca é o Estado de maior extensão territorial dos EUA e é conhecido como a última fronteira. Ele está a 55 milhas da Rússia e é o único a ter três entradas diferentes: Oceanos Ártico e Pacífico e Mar de Bering. Ele já pertenceu ao Império Russo que o vendeu, em 1867, aos EUA, por medo de perder a área, sem ganhar nada, para o seu rival Império Britânico, que já detinha o seu vizinho, o Canadá. Dizem seus habitantes que, na época, o povo americano foi contra, pois entendeu ser um péssimo negócio comprar com dinheiro público um amontoado de gelo. O valor pago foi de US$ 7,2 milhões, o que equivalem hoje a US$ 100 milhões.

Os críticos chamaram a transação de "loucura de Seward". William Seward era o secretário de Estado que fez o negócio. No entanto, menos de 20 anos depois da compra, instalou-se na região a corrida do ouro e, na metade do século XX, foram encontradas enormes reservas de petróleo, o que rende à população royalties pela venda do produto. O Alasca tem uma população que gira em torno de um milhão de habitantes e um PIB de US$ 44 bilhões anuais, o que transformou a aquisição do Alasca no negócio mais rentável da história e Seward acabou entrando para história não como um louco como previam seus contemporâneos, mas como o político que fez o maior negócio de todos os tempos.

Ao conhecer a história do local, foi impossível não pensar e questionar: a decisão de fazer a compra foi baseada em conhecimento e competência ou decorreu do fenômeno sorte? Dizem os sociólogos que competência é tomar iniciativa e assumir responsabilidade diante de situações com as quais nos deparamos. É o entendimento prático de situações, baseado em conhecimentos adquiridos. Já a sorte é uma força sem propósito, imprevisível, incontrolável que modela eventos de forma favorável para o indivíduo. Como a vida é uma permanente administração de oportunidades que surgem para a construção de algo mais sólido, no meu ponto de vista foi mais uma questão de competência do que de sorte, ainda mais depois que conheci um pouco da história de Seward, que foi uma das principais figuras políticas dos primeiros anos do Partido Republicano, tendo sido, inclusive, indicado a presidente nas eleições de 1860, e a recusou, vindo a se tornar um dos membros mais leais do gabinete do presidente Lincoln, além de ter sido um grande opositor da escravidão nos anos que precederam a Guerra da Secessão.

Claro que, quando foi tomada a decisão da compra do Alasca, não havia como prever a descoberta do ouro e do petróleo, mas, mesmo sem eles, a aquisição do território já era um grande negócio pela sua localização estratégica. Além disso, quando Seward arquitetou a compra do Alasca, estava com 66 anos e já tinha um vasto conhecimento nas mais diversas áreas e muita experiência de gestão pública, pois foi senador e governador de Nova Iorque, antes de se tornar secretário de Estado. A sorte até pode existir, mas ela somente será percebida num ambiente de dedicação, trabalho e competência e para aqueles que a identificam como oportunidade.

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